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Dia da Consciência Negra

 

Uma Reflexão do que é Ser Negro no Brasil :
Escrever sobre qualquer aspecto de como é ser negro no Brasil é falar sobre isso: sobre como temos que fazer mais e mesmo assim nos contentar com menos. Os poucos negros médicos, empresários, os universitários e os outros incontáveis poucos representantes negros mais e mesmo assim nos contentar com menos. Os poucos representantes negros nas mais diversas áreas da sociedade que tem se desdobrado para fazer muito mais do que os outros fazem.
Em um primeiro momento parece uma afirmação radical. Para alguns setores (pessoas da sociedade ) é apenas uma falácia ou um mito coisas como racismo velado e preconceitos em um país multicultural como o Brasil.
Mas vejam bem, o estado brasileiro foi escravista durante mais 300 anos, ( muito mais ) quando finalmente demos um passo em direção ao que deveria ser a construção de uma nação que valoriza a sua diversidade, demos um passo para trás ( ou encontramos uma forma de maquiar o que já existia). Como demos esse passo para trás?
Simples: Nosso estado foi reestruturado por conceitos republicanos excludentes, impôs e estimulou, ao longo da história, conceitos de nacionalidade que determinaram um discurso que não refletia a realidade multicultural do país.
Entendemos que a identidade deriva da dialética entre o indivíduo e a sociedade, pressupondo uma interação, pois mesmo que o sujeito reconheça-se inserido em determinado grupo, é necessário uma resposta social a essa inserção. Porém, ao falar em identidade, não podemos deixar de falar também em diferença, já que algumas relações estabelecidas entre o eu e outro são conflituosas e, apesar de se falar cada vez mais sobre igualdade, na sociedade atual ainda se estabelece como modelo ideal, o homem branco, cristão, heterossexual, ocidental... Sendo então a este modelo, que deveríamos assemelhar-se. Entretanto reconhecer que somos diferentes para estabelecer a existência de uma diversidade cultural no Brasil, não é suficiente para combater os estereótipos e os estigmas que ainda sem dúvida, o homem é o seu corpo, a sua consciência, a sua socialidade , o que inclui sua cidadania. Mas a conquista, por cada um, da consciência não suprime a realidade social de seu corpo nem lhe amplia a efetividade da cidadania. Talvez seja essa uma das razões pelas quais, no Brasil, o debate sobre os negros é prisioneiro de uma ética enviesada. E esta seria mais uma manifestação da ambigüidade a que já nos referimos, cuja primeira conseqüência é esvaziar o debate de sua gravidade e de seu conteúdo nacional. Olhar enviesado Enfrentar a questão seria, então, em primeiro lugar, criar a possibilidade de reequacioná-la diante da opinião, e aqui entra o papel da escola e, também, certamente, muito mais, o papel freqüentemente negativo da mídia, conduzida a tudo transformar em "faits-divers", em lugar de aprofundar as análises. A coisa fica pior com a preferência atual pelos chamados temas de comportamento, o que limita, ainda mais, o enfrentamento do tema no seu âmago. E há, também, a displicência deliberada dos governos e partidos, no geral desinteressados do problema, tratado muito mais em termos eleitorais que propriamente em termos políticos. Desse modo, o assunto é empurrado para um amanhã que nunca chega. Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser objeto de um olhar enviesado. A chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado, lá em baixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta. Logo, tanto é incômodo haver permanecido na base da pirâmide social quanto haver "subido na vida". Pode-se dizer, como fazem os que se deliciam com jogos de palavras, que aqui não há racismo (à moda sul-africana ou americana) ou preconceito ou discriminação, mas não se pode esconder que há diferenças sociais e econômicas estruturais e seculares, para as quais não se buscam remédios. A naturalidade com que os responsáveis encaram tais situações é indecente, mas raramente é adjetivada dessa maneira. Trata-se, na realidade, de uma forma do apartheid à brasileira, contra a qual é urgente reagir se realmente desejamos integrar a sociedade brasileira de modo que, num futuro próximo, ser negro no Brasil seja, também, ser plenamente brasileiro no Brasil.
Entender a questão seria então em primeiro lugar, criar a possibilidade de reequaciona´-la diante da opinião , e aqui entra o papel da Escola e também certamente , muito mais o papel freqüentemente da mídia conduzida a tudo em lugar de aprofundar as análises.
Compreendemos que abordar a questão da mestiçagem como uma possibilidade de construção identitária, é um assunto muito delicado, pois sabemos que nas relações étnico raciais no Brasil, ainda persistem o “mito da democracia racial” como forma invisibilizar o processo de “aculturação”, embasado no preconceito e na desvalorização da cultura afro descendente para a formação da sociedade brasileira. Não obstante, consideramos fundamental uma educação voltada a desmistificar todo e qualquer estigma referente as raízes afro descendentes, e ainda reafirmamos necessidade de um posicionamento político-social, com a finalidade de legitimar a importância da população negra para a formação da sociedade brasileira. E assim, de ante do exposto, concluímos que ser negro é muito mais que características fenotípicas, “Ser Negro” envolve cultura, antepassados, envolve atitude, coragem e acima de tudo se reconhecer como negro e ter consciência e convicção de sua contribuição na construção da nossa sociedade.

Sheila Silveira, Coordenadora Pedagógica da IEST, Pedagoga, Psicopedagoga. Mestra em Educação e Psicanálise e Doutora em Educação


REFERENCIAS:
CANDAU, Maria Vera. Sociedade multicultural e educação: tensões e desafios In
CANDAU, Maria Vera ( org). Cultura (s) e educação: entre o critico e pós-critico. Rio de Janeiro: DP
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo. Companhia da Letras1995.

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